A greve de incidência distrital está a atingir o nível de adesão que é necessário para que o governo e a população percebam que a ação dos professores em defesa da sua profissão chegou ao nível em que não é possível haver retorno. 97% de adesão reforça a importância do que está, agora sim, a acontecer no nosso país.
A resposta dos professores une-se em torno da ideia de que é necessário que haja respeito da parte do governo para com esta classe profissional, de que chega de reuniões sem soluções e de que não vão calar a sua voz.
Com as propostas até hoje apresentadas, quanto à alteração do regime de concursos, milhares de professores com muito tempo de serviço ficarão de fora dos processos extraordinários de vinculação e a regulamentação do regime de concursos, na lógica do governo, alarga a instabilidade do nível de agrupamento para o âmbito geográfico da zona pedagógica.
Por outro lado, dos esclarecimentos prestados pela equipa do ME, percebe-se que ao obrigar a que o concurso de afetação englobe 7 zonas pedagógicas, os professores alargam o grau de sujeição a colocação em escola numa mancha superior ao distrito ou mesmo, nalguns casos a dois distritos.
Não há, ainda, também, quaisquer sinais de disponibilidade do governo para negociar outras matérias, para além dos concursos. O alargamento do número de professores fora das vagas para o acesso aos 5.º e 7.º escalões é uma falácia. O governo insiste na indisponibilidade para contar todo o tempo de serviço que tem estado a roubar aos professores. A negociação de um regime específico de aposentação que crie boas condições para o rejuvenescimento da profissão. O direito ao salário justo para os professores independentemente do seu vinculo laboral foi transmutado numa proposta em que o governo não quer pagar acima do valor do 3.º escalão, quando temos professores que têm 20 e mais anos de serviço e que, segundo a Comissão Europeia, não podem por isso ser prejudicados. A inexistência de apoios à deslocação para zonas longe da sua residência familiar, como acontece noutras profissões, não é, sequer, considerada.
Esta "sopa" de maus tratos profissionais traduz-se na inexistência de jovens interessados em seguir uma profissão que pode ser muito nobre, mas que não põe o pão na mesa nem garante um futuro cativante e aliciante.
A resposta dos professores em Leiria, com 97% de adesão à greve, é o resultado desta situação que revolta os professores e que tem justificado a forte adesão às lutas que a FENPROF e outras sete (agora oito) organizações sindicais têm estado a promover. Uma luta dura e longa que não pode cair em aventureirismos que criem dificuldades à fruição dos direitos liberdades e garantias constitucionais. Esta é uma corrida de fundo e que não pode impedir ninguém de a fazer, porque todos seremos os necessários para a levar por diante.
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